A linha vai ligar a Freguesia do Ó, na região norte de São
Paulo, à estação São Joaquim, na região central, e terá 15
quilômetros de extensão. O projeto é orçado em R$ 7,8 bilhões e
será executado por meio de parceria público-privada (PPP). “Esta
será a primeira obra de metrô integralmente privada, desde a
construção até a operação. A Linha 4-Amarela (Luz-Vila Sônia) foi
construída pelo governo do Estado e é operada pela iniciativa
privada”, destacou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin
(PSDB).
A empresa que assumir a linha terá concessão por 25 anos e será
responsável por pelo menos metade dos desembolsos do projeto. “A
empresa que apresentar menor contraprestação para o Estado ganha o
edital”, ressaltou o governador. A outra parte, de até 50%, será
assumida pelo governo de São Paulo. “Vamos desembolsar R$ 2 bilhões
de recursos próprios e devemos financiar cerca de R$ 1,9 bilhão”,
afirmou o secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo,
Jurandir Fernandes. Os aportes privados serão de outros R$ 3,9
bilhões e também poderão ser 50% financiados. De acordo com
Fernandes, o governo estuda financiamentos com o Banco Mundial, o
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
Banco do Brasil.
As empresas interessadas têm até 90 dias para apresentar as
propostas e a assinatura dos contratos com a empresa vencedora está
prevista para julho. O início das obras deve ficar para 2014. Já o
início da operação da linha, que tem demanda estimada em 634 mil
passageiros por dia, deve ocorrer em 2020. O prazo anterior era
2018. “Algumas estações poderão ser inauguradas antes e a
iniciativa privada pode surpreender positivamente e entregar a obra
antecipadamente já que tem interesse em receber o retorno
financeiro com o início das operações”, disse o secretário.
Questionado se havia possibilidade de atraso na entrega das
obras, Fernandes admitiu que até a assinatura do contrato, em
julho, o processo licitatório pode ser questionado judicialmente,
como ocorreu com a Linha 5-Lilás, e ter atrasos. “Depois da
assinatura do contrato são seis anos no máximo”, garantiu.
Trajeto
A linha é conhecida como “ramal das universidades” e vai atender
estudantes e funcionários de instituições como Unip, Uninove, PUC,
Faap, Mackenzie e FMU e corta bairros como Perdizes, na região
oeste, Bela Vista e Higienópolis, na região central. Neste último,
a linha recebeu oposição dos moradores que não queriam que a
estação ficasse próximo da Av. Angélica, onde hoje há um
supermercado. Após a polêmica, a estação no bairro foi transferida
para a Rua Sergipe e prevê saídas para o estádio do Pacaembu, para
a Faap e para a Av. Angélica.
Além disso, a linha 6-Laranja terá parada na estação Água
Branca, na região oeste, onde deve ter conexão com os trens
regionais, projeto que prevê ligação para o ABC, Santos, Sorocaba,
São José dos Campos e Jundiaí. O governo paulista também negocia
com o governo federal a transferência da estação paulista do trem
de alta velocidade (TAV) do Aeroporto Campos de Marte para a Água
Branca. “Essa é uma decisão do governo federal. O edital do TAV
prevê estação em Campos de Marte, mas ainda avaliam a mudança”, diz
Jurandir Fernandes.
Moradores
Durante a entrevista aos jornalistas, o governador Geraldo
Alckmin foi interpelado por um universitário que questionou se algo
seria feito para melhorar o transporte da região antes do metrô.
“Estamos revitalizando as linhas da Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos (CPTM) e aumentando o número de trens”, garantiu o
Alckmin. “Os trens são velhos e lotados”, rebatia o universitário,
que se afastou na sequência.
Já Paulo Pacheco, 23 anos, morador do bairro desde que nasceu,
lembra que em junho de 2010 o governo de São Paulo lançou os
estudos para a obra do metrô em evento na escola de samba Rosas de
Ouro, que fica na região norte paulista. “Era ano eleitoral e houve
um ato político com vários integrantes do PSDB lançando a linha. Na
sequência, ocorreram perfurações no bairro, mas a linha ficou
esquecida e até hoje nada saiu do papel”, lembrou. Pacheco ressalta
ainda que o metrô já deve nascer com déficit, uma vez que deve
ficar pronto mais de uma década depois de ter sido projetado. “A
região é uma das que mais crescem na cidade. Hoje as ruas do bairro
já não dão conta de escoar o tráfego, até 2020 isso deve piorar”,
destaca.
Já a funcionária pública Vera Lúcia Fernandes, 60 anos, acredita
que não vai usufruir do novo metrô. “Talvez o meu neto”, ironizava
ela, após o lançamento do edital. Moradora da Freguesia do Ó, ela
trabalha no Hospital do Cachoeirinha e espera a extensão da linha
até a Vila Cachoeirinha, que abriga um terminal de ônibus e
inicialmente ganharia um ramal do metrô, que foi descartado no
projeto final. “Pego um ônibus que demora até uma hora para passar.
É uma região carente de transporte”, considerou. A auxiliar de
limpeza Adriana da Silva contou que leva até duas horas da
Freguesia do Ó até a estação São Joaquim. “O metrô mais próximo é a
Barra Funda, que fica a 40 minutos daqui. Vai facilitar muito para
gente, espero que fique pronto logo”, pedia.
Empresas
Entre as empresas que já apresentaram interesse em executar as
obras e operar a linha do metrô estão o consórcio Invepar/Queiroz
Galvão e a Odebrecht. As empresas fizeram manifestação de interesse
público e desenvolveram projeto para a linha. “A concorrência será
internacional e outras empresas também vão participar do processo”,
afirmou o secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo,
que chegou nesta quarta-feira de uma viagem a Londres, onde
apresentou o projeto para fundos ingleses.
O edital prevê ainda extensão da linha até a Rodovia dos
Bandeirantes, passando pelo futuro Centro de Convenções Pirituba. O
local seria construído para eventualmente receber a feira Expo
Mundial 2020. “Esse trecho não faz parte dessa licitação atual, mas
a extensão pode ser feita por monotrilho caso São Paulo sedie a
feira, garantindo a entrega até 2020”, disse o secretário. Caso a
cidade não seja a escolhida para receber o evento, a extensão pode
não ser executada. “Neste caso, estudaremos as prioridades”,
afirmou.
A Expo Mundial é considerada o terceiro maior evento do mundo em
termos de impacto econômico e cultural, perdendo apenas para a Copa
do Mundo e para as Olimpíadas. São Paulo concorre com outras quatro
cidades: Izmir (Turquia), Ekaterinburgo (Rússia), Dubai (Emirados
Árabes) e Ayutthaya (Tailândia).