Um meio de transporte sem condutores, em via elevada, com baixo impacto ambiental e que irá qualificar a mobilidade urbana em Porto Alegre e Região Metropolitana. Esse é o Aeromovel, que utiliza veículos leves movidos através de propulsão pneumática – o ar é soprado por ventiladores industriais de alta eficiência energética, por meio de um duto localizado dentro da via. O vento empurra uma aleta (semelhante a uma vela de barco) fixada por uma haste ao veículo, que se movimenta sobre rodas de aço em trilhos.
O conceito da tecnologia foi criado pelo empresário gaúcho Oskar Coester, na década de 1960. Apesar de ter uma linha teste em Porto Alegre, o sistema operava comercialmente somente na Indonésia, desde 1989. Porém, em agosto de 2010, foi firmado contrato entre Trensurb e Aeromovel Brasil S.A. para a implantação da primeira linha comercial da tecnologia no país. O Aeromovel interligará a Estação Aeroporto da Trensurb ao Terminal 1 do Aeroporto Internacional Salgado Filho num trajeto de 814 metros que será percorrido em dois minutos.
O projeto já está em fase final, com índice de 97% de conclusão. Por ser totalmente desenvolvido no Brasil e usar tecnologia 100% nacional, o Aeromovel tem movimentado a indústria e o mercado profissional do país. Durante estes quase três anos de obras, 59 empresas e 1.058 pessoas empenharam-se para que sua construção se concretizasse.
A oportunidade de fazer parte de um projeto inovador
A arquiteta Caroline Souza, 30 anos, participou da elaboração do projeto arquitetônico das estações e da via elevada, feito pela equipe da Obino Souza Pinto Arquitetura e Urbanismo (OSPA). O escritório de arquitetura foi montado quando Caroline e alguns colegas ainda eram estudantes. Ela conta que o trabalho envolveu diretamente cinco profissionais e foi realizado em seis meses. “Foi uma experiência muito interessante para todos nós. Por se tratar de uma tecnologia diferenciada, moderna e gaúcha, tanto a via quanto as estações precisavam refletir o conceito da tecnologia”, explica. O projeto das estações foi baseado no conceito criado pelo arquiteto Ado Azevedo. A partir da ideia dele, foram analisados os condicionantes legais, elaborado o projeto legal, o executivo e a compatibilização de todos os planos complementares.
Quem está executando o projeto das estações, realizado pela OSPA, é a Rumo Engenharia. “Toda a obra que tem componentes diferentes tem algo de fascinante. Esta é uma obra fascinante”, declara o diretor da empresa, Rogério Araújo Balle, 57 anos. A Rumo trabalha com obras industriais e soluções técnicas, inclusive nas estações da Trensurb, onde há mais de 15 anos já presta serviço. Na obra do Aeromovel, 40 empregados introduziram alguns elementos construtivos modernos, com estruturas metálicas. Rogério esclarece que o aço, princípio das estações, oferece vantagens: leveza e rapidez. Já em fase final, as estações estão recebendo acabamentos.
Além da via e estações, outro componente é essencial para a implantação do Aeromovel: o veículo. A empresa responsável pela fabricação do A100 e A200, os veículos que circularão entre a Estação Aeroporto da Trensurb e o Aeroporto Salgado Filho, é a T’Trans Sistemas de Transportes S.A., que desde 1997 atua no segmento metroferroviário. Estiveram envolvidas no processo de fabricação dos veículos 237 pessoas. O diretor adjunto da área industrial da empresa carioca, Fernando Orsi, 50 anos, observa a inovação que o Aeromovel trouxe usando materiais compostos, como a fibra de vidro, na fabricação dos veículos. Para atender essa demanda, ele esclarece que foi criada uma infraestrutura prévia na T’Trans para a produção dos materiais. “Sempre estive envolvido em grandes projetos, mas nunca em um tão inovador e de baixo custo como este. É uma honra fazer parte e contribuir com esta equipe única no Brasil”, afirma Fernando.
O A100, com capacidade para 150 passageiros, já está em teste na via desde abril e o A200, veículo articulado com capacidade para 300 passageiros, segue em fabricação pela T’Trans e deve ser entregue em setembro – porém sua chegada não é necessária para o início da operação, que tem previsão de início até o fim de agosto.
O papel fundamental da Trensurb
Diego Abs viu no empreendimento uma oportunidade de desenvolver sua carreira. Aos 29 anos, ele é diretor de engenharia da Aeromovel Brasil e coordena as várias áreas técnicas, de engenharia civil, mecânica, elétrica e eletrônica. Também ajuda a desenvolver a cadeia produtiva de fornecedores e participa de negociações. Para Diego, a confiança da população na Trensurb, reconhecendo o trem como um sistema seguro, ajudou a creditar a tecnologia. “Certamente tem uma transferência de credibilidade da Trensurb para nós”, declara.
Tal credibilidade estimulou propostas para implantar o Aeromovel em outros lugares. Em Canoas, por exemplo, existe um projeto para ligar áreas densamente povoadas, com polos geradores de tráfego, à área central da cidade e à linha da Trensurb, totalizando 9 quilômetros. Também há estudos para implantação de uma linha de Aeromovel entre a zona sul de Porto Alegre e sua região central, com extensão de aproximadamente 18 quilômetros. Além de ligação dessas regiões, o sistema conectaria a outros modais de transporte, como os trens da Trensurb, as futuras linhas de metrô e de BRT de Porto Alegre. A Trensurb avalia, ainda, a possibilidade de implantação de uma linha conectando a Arena e seus empreendimentos lindeiros ao Aeroporto Salgado Filho, utilizando o trecho já em implantação entre o Aeroporto e a Estação Aeroporto do metrô, totalizando dois quilômetros.
Segundo o diretor-presidente da Trensurb, Humberto Kasper, a Trensurb tem o papel de fomentar o desenvolvimento de projetos de mobilidade urbana e inovação tecnológica no país. “Além de inovar, estamos fomentando a indústria brasileira num projeto com grande potencial a ser explorado”, ressalta Kasper.